sexta-feira, 23 de março de 2012

Quando menos é mais

Quando Menos é Mais - Mindfulness

Vivemos num mundo caracterizado pelo imediatismo, pela pressa, pela necessidade de satisfação imediata, pela ilusão de que um dia, alguma coisa ou alguém nos vai conseguir tapar o buraco profundo que temos na alma. Vivemos na ilusão de que… quando um dia formos… quando um dia tivermos… seremos felizes. E assim continuamos… à espera!






“Gosto de caminhar pelos trilhos do campo, pelas plantações de arroz ladeadas por gramíneas selvagens, pisando conscientemente o solo maravilhoso. Nessas horas, a existência torna-se uma realidade miraculosa e misteriosa. Normalmente, as pessoas consideram um milagre caminhar sobre a água ou no ar. Mas eu acho que o verdadeiro milagre é caminhar no chão. Todos os dias nos envolvemos em milagres que nem sequer reconhecemos: o céu azul, as nuvens brancas, as folhas verdes, os olhos negros e curiosos de uma criança – os nossos próprios olhos. Tudo é um milagre.” Thich Nhat Hanh

Vivemos num mundo caracterizado pelo imediatismo, pela pressa, pela necessidade de satisfação imediata, pela ilusão de que um dia, alguma coisa ou alguém nos vai conseguir tapar o buraco profundo que temos na alma. Vivemos na ilusão de que… quando um dia formos… quando um dia tivermos… seremos felizes. E assim continuamos… à espera!

Olhamos em volta e é assim… tudo nos é oferecido todos os dias com promessas de satisfação plena. Compramos o carro… a casa. Mergulhamos na relação … construímos a família. Fazemos o curso… temos o emprego. E continuamos à espera! Nesta grande ilusão perdemo-nos, tornamo-nos ansiosos, tornamo-nos máquinas projetoras de hábitos, de qualquer coisa que não somos nós. Numa sociedade onde os processos do hemisfério esquerdo do cérebro foram e são tão glorificados, fomos ensinados a passar demasiado tempo a pensar, a fazer… muito pouco tempo a Ser. E é disto que se trata, Ser! E Ser não é fundamentado por lógica alguma. É-se e pronto!

Mesmo em modelos que promovem o auto-conhecimento e o desenvolvimento pessoal, as palavras chave são Objetivos, Ação. Os objetivos são importantes, agir é importante. Precisamos saber o que queremos para podermos direcionar o nosso foco. Precisamos de sair da inércia. No entanto… que objetivos? Objetivos que nos levam passo a passo na direção do nosso centro, ou objetivos onde procuramos, mais uma vez, pela aquisição exterior, validar-nos enquanto pessoas?

Os objetivos são importantes… quando conseguimos desapegar-nos do resultado. E, para isso, precisamos todos de aprender a viver no Presente. Precisamos de desacelerar, respirar, saborear.
Neste mundo frenético, eis que lentamente nos voltamos para a qualidade, para o centro. E vamos buscar a práticas antigas, como a meditação, ensinamentos preciosos que nos permitem desenvolver a atenção plena, a capacidade de estar no Presente – o Mindfulness.

O Dr Jon Kabat-Zinn (fundador e diretor da Stress Reduction Clinic no Centro Médico da Universidade do Massachusetts, e Professor Associado no Departamento de Medicina Preventiva e Comportamental) é um dos principais investigadores neste campo. É especialista em meditação Zen, na prática da Atenção Plena e tem sido um dos responsáveis pela integração do Mindfulness no sistema de tratamento clínico e psicológico. Há vários estudos realizados por neuro-cientistas que indicam que a meditação pode trazer benefícios físicos e mentais a quem a pratica com regularidade.

Mindfulness, ou Atenção Plena, é um estado de atenção no momento presente no qual podemos tomar consciência dos nossos pensamentos, sensações físicas e emoções quando ocorrem, sem reagir de uma forma automática, permitindo-nos assim escolher como responder ao que vai acontecendo. Permite-nos ver as coisas como elas são, incluindo nós mesmos. Gastamos muita energia a reciclar o passado ou a pré-ocupar-nos com o futuro. Pelo caminho fica a capacidade de saborearmos o presente.
Com a prática do mindfulness, desenvolvemos a capacidade de deixarmos de nos identificar com os nossos pensamentos. Passamos a observar, sem julgamento, o que se passa na nossa mente. A observação permite-nos dar conta dos nossos padrões, preconceitos, hábitos e, assim, responsabilizarmo-nos pelas nossas escolhas.

Ganhamos flexibilidade e principalmente abertura para a multiplicidade de escolhas que fazemos diariamente. Passamos cada vez mais a viver no lado da causa e menos no lado do efeito. Nós somos os criadores das nossas experiências.

A prática de mindfulness não é separada da vivência do dia a dia, não é separada da vida. Não precisamos de nos retirar para lugar nenhum para praticar mindfulness. A Atenção Plena pratica-se em todos os momentos. Não é daqui a um bocado, é Agora. Pratica-se a caminhar, a lavar a loiça, a comer… Sempre que estamos a fazer alguma coisa, somos apanhados por pensamentos que nos tiram a atenção do presente… e lá vamos nós atrás desses pensamentos. Pensamentos esses que muitas vezes são gatilhos para estados emocionais que nos tiram o equilíbrio. Mindfulness é isto, é ter a atenção no momento presente. E sempre que o conseguimos, estamos em paz.

“Somos o que pensamos.
Tudo o que somos provém
dos nossos pensamentos.
Com os pensamentos
Fazemos o mundo” – Dhammapada

Exercício:
Deixo-te duas sugestões para começares a praticar a Atenção plena, em actividades simples e que fazes diariamente
.
A tomar banho:
Normalmente, tomamos banho de forma mecânica e a pensar em mil e uma coisas. Por isso, não nos apercebemos de uma série de sensações que um banho pode proporcionar.
Ao tomares banho sente a temperatura da água, sente o toque das gotas do chuveiro que caiem sobre o teu corpo e que escorrem por ele. Observa cada sensação e cada movimento realizado. Simplesmente sente. Observa-te a tocares-te quando te lavas, a espuma a tocar na tua pele… o cheiro. Observa como a tua mente vai para longe, como pensas no que tens de fazer a seguir, preocupaste com o futuro, ou te lembras de alguma coisa que já passou e ficas a remoer no passado. Apenas observa o processo, sem julgar. E, sempre que te apanhares nestes pensamentos, retorna ao banho, às sensações, aos cheiros, aos sons. Volta para o Aqui e Agora todas as vezes que a tua mente for para outro lugar que não seja o presente.

A comer:
Deixa de lado tudo o que possa desconcentrar-te – desliga o computador, a televisão, deixa de lado os livros, revistas…
Agora observa tudo, desde o acto de segurar o garfo e levá-lo à boca, a todas sensações que comer te pode trazer – o cheiro, o sabor dos alimentos, a textura, o contacto dos dentes com o alimento, a mastigação, a comida sólida tornando-se líquida e sendo engolida, passando pela garganta …

Por alguns minutos fecha os olhos quando a comida estiver na boca e come vagarosamente, saboreando-a.

Vera Braz Mendes - Artigo publicado Sapo Mulher

7 comentários:

  1. Muito bom, Vera. Muito bom, mesmo. Óptimos conselhos.

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  2. "E Ser não é fundamentado por lógica alguma. É-se e pronto!"
    Assim é a vida...procuramos compreendê-la e deixamos de sentí-la ...deixamos com isso de viver.
    Osho ensina tudo isso com muita propriedade também e eu sou adepta à prática de mindfulness...apenas dispenso os rótulos...quanto menos "enquadrado, rotulado" melhor.
    Adorei seu texto...considero-o empolgante!!!
    Irei partilhar Vera. Parabéns.
    Beijos
    Astrid Annabelle

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  3. Muito bom!

    Vou praticar. Tens toda a razão... Por vezes pensamos em tantas, tantas coisas que o presente acaba por passar ao lado!
    Obrigada pelos conselhos,

    Bjs

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  4. Gostei muito,vou praticar... Bjinho, Vera.

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