quarta-feira, 9 de abril de 2014

Cruz Cardinal - Transcender a Crucificação


Este ano a Primavera é quente, bombástica. Muito se fala e escreve nos meios astrológicos sobre a Grande Cruz Cardinal que vai estar no Céu a partir de meio de Abril, cujo aspecto exacto começará no dia 22. Quem me conhece e quem não me conhece mas lê, sabe que não sou fatalista, pelo contrário, procuro sempre um significado construtivo em tudo. Ainda assim, esta grande cruz, como o António Rosa diz, é um enorme “fogo de artifício”. Não tenho a certeza é se será bonito de se (vi)ver.

Importa primeiro que tudo explicar o que é uma Grande Cruz Cardinal.

Quem estuda astrologia sabe que o Zodíaco funciona através dos 4 elementos, que se expressam num ritmo tríplice: Geração, concentração e distribuição de energia, tendo como resultado os 12 signos. A combinação de 3 modalidades com os 4 elementos resulta em 12 padrões básicos de energia – os 12 Signos. Os Signos Cardinais (Equinócios e Solstícios) geram o poder (exteriorizam), que será concentrado pelos Signos Fixos e distribuído pelos Signos Mutáveis. Cada Elemento manifesta-se assim, de três modos distintos: o Modo Cardinal, que corresponde aos signos que iniciam as estações, o Modo Fixo, associado aos signos do meio das estações e o Mutável, que corresponde aos signos finais de cada estação. Cada um destes modos encerra um signo de cada um dos quatro Elementos, que dá origem a três cruzes: a cruz cardinal, a cruz fixa e a cruz mutável.

Cruz, porque temos dois signos que se opõem e que fazem uma quadratura (um ângulo de 90º) com outros dois signos que também se opõem, formando um quadrado. Nas oposições, a tensão dá-se porque estão em movimento duas forças antagónicas e cuja integração se faz através da aprendizagem da complementaridade pois, pertencem a elementos compatíveis (Ar/Fogo ou Água/Terra). Nas quadraturas, por outro lado, a tensão gerada é mais desafiante e implica acção pois dá-se entre elementos que não estão em harmonia (Ar/Terra; Ar/Água; Fogo/Terra ; Fogo Água).

A palavra Cardinal significa fundamental e é a modalidade dos signos do início das estações que representam a manifestação de uma nova energia e, para que essa nova energia se manifeste, a palavra-chave é um impulso para a acção. Ter planetas a formar uma grande cruz num mapa natal é muito desafiador e não é uma configuração que ocorra muitas vezes. Se por um lado é um aspecto muito poderoso que pode levar a pessoa a desenvolver a coragem e a ser bem-sucedida pela quantidade de obstáculos que tem de ultrapassar, por outro  pode levar a uma desintegração da personalidade, exactamente por não conseguir lidar com esse efeito poderoso da cruz. No entanto, mesmo que não tenhamos planetas a formar esta configuração, todos temos na nossa mandala astrológica a chamada “cruz da encarnação”, que é formada pela intercepção dos dois eixos do mapa: o do horizonte (eixo da consciência; Ascendente/Descendente; Eu/outro) e o do Meridiano (eixo do poder; Fundo do Céu/Meio do Céu; de onde vim, as minhas fundações emocionais, para onde vou, a minha projecção e integração no colectivo). A Cruz Cardinal tem um simbolismo profundo nas nossas vidas: A necessidade de autonomia, independência, afirmação do Eu (Carneiro), oposta à necessidade de relacionamentos justos e equilibrados (Balança). A herança emocional que vem da família, palco da minha estrutura emocional, de muitas crenças, de muitas feridas (Caranguejo), e a minha necessidade de integração na sociedade que, muitas vezes, serve para buscar aprovação através de um qualquer poder social, de uma qualquer estrutura que me devolva significado, muito ligado na nossa sociedade à carreira (Capricórnio). E a contínua tensão gerada pelas quadraturas: as necessidades emocionais, família, a desafiar a minha afirmação pessoal. As minhas necessidades emocionais a não me permitirem relacionamentos verdadeiros de partilha. A minha necessidade de poder social, de aprovação, em tensão com a minha independência e afirmação e também com os meus relacionamentos. Estes são temas centrais na vida de todos nós. Temas de equilíbrio difícil e que marcam decididamente o caminho de construção da nossa personalidade em direcção à Alma.

O que vamos ter no céu no dia 22 de Abril (embora a sua influência seja notada quer antes quer depois deste dia) é uma Cruz Cardeal formada por Marte a 14º de Balança; Úrano a 14º de Carneiro; Júpiter a 14º de Caranguejo e Plutão a 14º de Capricórnio. A característica desta Cruz, é a exactidão dos aspectos e os planetas envolvidos.

A tensão anda no ar desde há uns anos, pelo menos desde que teve início a primeira quadratura entre Úrano e Plutão em Junho de 2012… Na verdade, a tensão está em nós desde o dia em que nascemos… Tensão que todos os dias sentimos entre a necessidade urgente de mudança, de descondicionamento da ilusão de vida que criámos e que muitas vezes está longe de expressar quem somos e, ao mesmo tempo, o medo que temos da mudança. A mudança traz incerteza… penso que é isto que andamos a fazer… habituarmo-nos à incerteza para encontrarmos a certeza que vem de dentro, da fé.

Não me considero uma astróloga de acontecimentos e por isso, mais do que aquilo que vai ou pode acontecer, o meu foco é no significado, para mim, para ti, para o mundo. E o significado só o encontro nos símbolos. O símbolo tem um poder integrador que transcende o acontecimento. A Astrologia trouxe à minha vida este efeito mágico do símbolo. Todos os dias ainda fico maravilhada. Assim espero continuar… a maravilhar-me.

Hoje, mais propriamente há uns minutos quando me sentei para escrever, olhei pela primeira vez para o mapa da grande cruz. E lá estava ela… a magia, a perfeição do Universo.

Todos seremos afectados por esta grande Cruz. Quem tem planetas nos signos cardinais ainda sentirá mais o seu efeito. Claro que trará tensões, crises… ainda assim, mais uma vez, a magia.

O António Rosa desafiou-me a escrever sobre os símbolos sabeus dos graus envolvidos na Grande Cruz, desafio que muito agradeço. Os textos são de uma simbologia impressionante e por isso de “leitura obrigatória”, mas são longos e por isso não os vou reproduzir aqui. Talvez o faça na próxima semana.

Á Cruz está sempre ligado o quadrado. O quadrado remete-nos para a ordem, estrutura, construção, trabalho….terra… encarnação. Saímos da “crucificação” da matéria pela transcendência. Pelo trabalho interno que liberta  que dissolve a rigidez do quadrado. Mergulho sem máscara no grande oceano universal.

A vida é mágica e ver a magia traz-me uma sensação de que tudo é perfeito, de ordem neste caos aparente do mundo em que vivemos.

Quando olhei para o mapa, percebi que o dedo do Universo apontava numa só direcção -  Neptuno em Peixes. Apesar da recepção mútua entre Saturno em Escorpião e Plutão em Capricórnio (que em meu entender moderam a Cruz), se olharmos para o regente tradicional de Escorpião, Marte, a saída da Cruz, da rigidez do quadrado aponta numa única direcção – Neptuno em Peixes.

Neptuno é assim o dispositor final do mapa:

Sol em Touro regido por Vénus em Peixes regida por Neptuno em Peixes.

Mercúrio em Touro regido por Vénus em Peixes, regida por Neptuno em Peixes

Lua em Aquário, regida por Úrano em Carneiro, regido por Marte em Balança, regido por Vénus em Peixes, regida por Neptuno em Peixes.

Vénus em Peixes, regida por Neptuno em Peixes.

Marte em Balança, regido por vénus em Peixes, regida por Neptuno em Peixes.

Júpiter em Caranguejo, regido pela Lua em Aquário, regida por Úrano em Carneiro, regido por Marte em Balança, regido por Vénus em Peixes, regida por Neptuno em Peixes.

Saturno em Escorpião regido por Marte em Balança, regido por Vénus em Peixes, regida por Neptuno em Peixes.

Úrano em Carneiro regido por Marte em Balança, regido por Vénus em Peixes, regida por Neptuno em Peixes.

Neptuno em Peixes – Signo da sua própria regência.

Plutão em Capricórnio, regido por Saturno em Escorpião regido por Marte em Balança, regido por Vénus em Peixes, regida por Neptuno em Peixes.

Interessante, não? Todo o mapa é dominado por Marte (no signo da Vénus, Balança), pela Vénus exaltada em Peixes e Neptuno em Peixes.

Neptuno é transcendência. Dissolve o que nos separa do outro, refina o que toca. Não é um planeta mental. É a centelha, a parte de cada um de nós que sabe que todos somos um, que todos viemos do mesmo sítio, que todos retornaremos à “Casa do Pai”.  Por isso, na nossa personalidade actua muitas vezes como ilusão – a realidade dura é colorida e muitas vezes não é enfrentada. Neptuno é a magia do sonho, da fé ilimitada que nos permite transcender.

Neptuno estará no grau 7 quando da formação exacta da cruz e, por isso, transcrevo também o símbolo do grau 8. Mais uma vez… magia!


Símbolo Sabeu do Grau sete de Peixes:

“Iluminada por um reflector, uma enorme cruz repousa sobre rochas cercadas pela cerração marinha.

Ideia básica: A bênção espiritual que fortalece os indivíduos que, aconteça o que acontecer, defendem com desprendimento a sua própria verdade.

Os homens que não dependem dos valores, das tradições ou do apoio colectivos, mas procuram a qualquer custo ser fiéis ao próprio Eu e ao próprio destino enfrentam inevitavelmente alguma espécie de crucificação. Esses homens mantêm-se apenas do poder que há dentro de si mesmos, ao qual responde uma luz que se acha acima deles. O símbolo diz-nos “Sê fiel ao teu próprio Eu e, em meio da confusão exterior manifestada por aqueles que se acham ao teu redor, compreenderás aquilo que realmente és como individuo  – um filho de Deus”.

Este símbolo (…) implica o valor supremo de uma vida orientada por uma voz interior e que manifesta um alto grau de Auto-Afirmação.”


Símbolo Sabeu do Grau 8 de Peixes:

“Uma garota soprando uma corneta. “

Ideia básica: Uma chamada à participação a serviço da raça, quando uma crise evolutiva se aproxima.

Este quadro simbólico apresenta outro aspecto da relação emocional entre o indivíduo e a colectividade de seres humanos. Pode ser vinculado, da mesma maneira, ao velho movimento feminista ou com o actual movimento de libertação da mulher. No simbolismo tradicional, a mulher refere-se, mais especificamente, ao aspecto psíquico e biológico da vida humana; ela é vista primariamente como a mãe e/ou o tipo intuitivo ou “psíquico” de pessoa. Uma nova raça de seres humanos pode muito bem-estar manifestando vagarosamente parte do seu potencial em termos de consciência e de realização plena. O indivíduo que percebe este desenvolvimento evolutivo “dá o alarme”. Ele ou ela é, a um só tempo, vidente-arauto e mutante. Nesse sentido, um ser humano como esse é, ao mesmo tempo, indivíduo fiel à sua natureza original e pessoa dedicada – dedicada ao futuro que ele ou ela traz em latência, tal como o faz uma semente em mutação.

Neste estágio (…) as duas fases precedente são combinadas numa nova forma de consagração do indivíduo ao Todo. O amanhã age através do hoje; ele conclama os homens ao renascimento.

Dane Rudhyar -  Uma Mandala Astrológica
  
A saída da crucificação é por Neptuno em Peixes que acorda a necessidade de transcendência, de buscar o alimento no espiritual. Simboliza a taça para receber as águas, a compaixão. Somos convidados a encontrar o Divino dentro de cada um de nós, a ilusão da separação do ego dissolve-se. temos que sentir, integrar... deixar de “pregar” a verdade e Ser verdade.

O amanhã age através do hoje. E assim, o que parece desafinado é uma sinfonia perfeita, se cada um de nós decidir ser Maestro.


 Aconselho a leitura dos texto do António Rosa no Blogue Cova do Urso
e do Marcelo Dalla no Dalla Blog


Vera Braz Mendes