sexta-feira, 22 de junho de 2012

Úrano/Plutão - Uma perspectiva simbólica e Histórica




Todos temos ouvido diversas vezes falar sobre a quadratura entre Plutão em Capricórnio e Úrano em Carneiro. Lembro-me que, no primeiro dia em que assisti a uma aula de Astrologia, saí de lá consciente de que entre 2012 e 2015, anos em que a quadratura é exacta, o mundo passaria com toda a certeza por processos de transformação intensos... para não usar uma palavra mais forte ainda como por exemplo radicais. Mesmo aqueles que não se interessam por Astrologia têm consciência que estamos todos a viver um tempo diferente.

Deixo-vos um excerto que tirei da "Dimensão Galáctica da Astrologia - O Sol também é uma estrela" de Dane Rudhyar. Este pequeno texto analisa a última estadia de Plutão em Capricórnio (quando o planeta ainda nem sequer era conhecido) entre 1764 e 1778. Deixo ainda o que, no mesmo livro, Rudhyar escreveu sobre Úrano.

Sobre Plutão em Capricórnio

"Capricórnio relaciona-se com o estabelecimento de esquemas sociais e de instituições políticas em larga escala, mas também com a sua cristalização. Os Estados Unidos iniciaram a sua existência sob este trânsito de Plutão, o qual desafiou os direitos do Rei Inglês, sobretudo em questões de política financeira (...) Na França, a monarquia desmoronava sob uma variedade de escândalos. Plutão via de regra traz à luz do dia as trevas do poder político ou da ambição pessoal. Força qualquer grupo entrincheirado a abdicar dos seus privilégios ou a enfrentar a revolução e a bancarrota moral-espiritual. Provavelmente Plutão entrava em Capricórnio quando Lutero desafiou a Igreja Católica poderosamente entrincheirada".

Sobre Úrano

"(...) É difícil definir em termos gerais as mensagens de Úrano à humanidade, sobretudo aos indivíduos, porque eles são condicionados por necessidades particulares, que dependem da actuação de Saturno. O propósito de Úrano é destruir a continuidade dos padrões saturninos, a fim de que no local e no momento da destruição possa ser experimentado algum tipo de visão galáctica, ou alguma intuição momentânea (...)."

Nota - Saturno é o regente de Capricórnio
        - Úrano está em Carneiro, podem perceber melhor Carneiro Aqui.

Plutão estava em Caranguejo quando foi descoberto no dia 18 de Fevereiro de 1930 -  vivia-se a grande depressão, os nacionalismos que culminaram na II Guerra estavam em crescente expansão. A nível colectivo, tratava-se de questões de subsistência, de alimento, profundas transformações no conceito de família, nação (podem ler sobre Caranguejo Aqui ). Nos anos 70, tivemos Plutão a fazer quadratura em relação à posição da sua descoberta em 1930, a partir de Balança, mudando profundamente a partir daí toda a forma de nos relacionarmos (Balança). Agora, temos Plutão no signo oposto ao da sua descoberta, Capricórnio, iniciando um novo ciclo.

Se olharmos para o ano de 1764 como o início de um ciclo e tudo o que representou - (sublinho que estávamos a iniciar a revolução industrial) temos o nascimento dos Estados Unidos enquanto Nação (o início do Novo Mundo e todas as implicações financeiras, políticas, sociais, filosóficas...), a profunda transformação do Velho Mundo, a Europa, começando pela França, com o início da Revolução Francesa em 1789 (a descoberta de Úrano que simboliza liberdade, igualdade, fraternidade, tinha sido em 1781). Podemos ver os anos 30 do século vinte, com Plutão em Caranguejo, como a fase "lua cheia" do ciclo iniciado em 1764. Todos os ciclos têm uma fase crescente que é marcada pelo instinto (é um período de emanação pouco consciente como é próprio de qualquer início de ciclo, de qualquer coisa jovem com ainda pouca maturidade) e que vai até à oposição (lua cheia), iniciando -se  a segunda fase do ciclo, uma fase mais consciente, "de libertação do significado criativo" como Rudhyar lhe chama. Em 2008, depois de 244 anos, temos novamente Plutão em Capricórnio, isto é, o início de um novo ciclo de Plutão em Capricórnio. Na verdade, sempre que Plutão ou outro planeta entra num signo, temos o início de um ciclo de relação entre o Planeta e a qualidade energética simbolizada pelo signo, por exemplo, quando Plutão esteve em Carneiro, iniciou um novo ciclo em Carneiro, e assim sucessivamente. No entanto, parece-me importante focar o ciclo que Plutão iniciou em Capricórnio.

É interessante analisar historicamente as fases do ciclo anterior de Plutão em Capricórnio:

Em Capricórnio - de 1764 a 1778 - Início Revolução Industrial, nascimento dos EUA, a Europa começa a sofrer transformações.


Em Carneiro - quadratura crescente - 1823 a 1851 - em 1848 nasceu o Comunismo Mundial com o manifesto de Marx e Engels. Ocorreu nesta altura, por exemplo, a corrida ao ouro nos EUA;  fundação do jornal New York Times. Em Portugal, exactamente em 1851, o marechal duque de Saldanha instaurou uma nova fase política designada por Regeneração... Em 7 de Setembro de 1822 tinha sido o "grito do Ipiranga no Brasil", depois da revolução liberal em Portugal.

Em Caranguejo - oposição - de 1913 a 1938  - Primeira Guerra Mundial (em Portugal tinha sido implantada a República em 1910), Revolução Russa de 1917 que fez cair o regime czarista e culminou com a criação da URSS em 1921 (as aparições de Fátima foram também em 1917...), surgimento de nacionalismos no pós guerra que produziram por exemplo Salazar, Franco e claro, Hitler e Mussolini e, no lado comunista  Estaline. A grande depressão de 1929. Início da II Grande Guerra em 1939. Depois da Segunda Guerra, a Europa ficou devastada (apesar de nos anos 50 ter sido assinado o Tratado de Roma que criou a CEE), a relação de forças mudou, emergindo os EUA e a URSS como superpotências. Importa também referir que foi depois da I Guerra Mundial que o Império Otomano foi dividido, dando origem à divisão de territórios. Depois da II Guerra, em 1948, com a criação do Estado de Israel, as condições estão definitivamente estabelecidas para os vários conflitos que hoje persistem no Médio Oriente, aliadas claro à dependência do petróleo.

Em Balança - quadratura minguante - De 1971 a 1984 - Profunda transformação nos relacionamentos, quer individuais, quer sociais, quer internacionais - (Em termos individuais, por exemplo, em 1975 foi anulada em Portugal a concordata da Igreja Católica que proibia o divórcio em casamentos católicos, no Brasil o divórcio foi legalizado em 1977). Logo em 1973 houve a Guerra do Yom Kippur que desencadeou uma crise mundial, a crise do petróleo, que levou os EUA à recessão. Em Portugal, deu-se o 25 de Abril, foi o final da guerra colonial e a consequente descolonização. No mundo, Watergate em directo pela televisão. Economias de países como o Japão começavam a crescer. Surgiu também nesta época a defesa do meio ambiente. Em 1979 uma nova crise do petróleo  motivada pela queda do Xá do Irão, Reza Pahlavi, aliado dos Estados Unidos, e sua substituição por Aiatolá Komeini inimigo declarado de Israel. Mais uma vez,  o petróleo é usado como arma. Ainda assim, os anos 70 de Plutão em Balança, são marcados também por Jimmy Carter que esteve à frente do governo dos Estados Unidos entre entre 1977 e 81, foi o mediador do primeiro acordo de paz entre um país árabe e Israel, O acordo de Camp David de 1978, selou uma paz duradoura entre Israel e Egipto. Carter foi um defensor de políticas de paz, tendo inclusive ganho o Prémio Nobel da Paz em 2002.

 No início dos anos 80, principalmente depois da entrada de Plutão em Escorpião, intensifica-se a tensão, entramos na última fase do ciclo. Em 1983, com Ronald Reagan como Presidente, surgiu o programa militar de Reagan, a chamada Guerra das Estrelas, e em 1984 Reagan é reeleito. Embora Reagan tenha tido uma política externa muito agressiva contra a URSS, estabelecendo as relações que fossem necessárias, através da diplomacia ou não, que o ajudassem a combater o comunismo, foi durante o seu mandato que negociou com Gorbatchev um acordo de não proliferação nuclear.

Em suma, com Plutão em Capricórnio nascem os EUA e dá-se a revolução industrial que incrementa o capitalismo. Com Plutão em Carneiro, nasce o comunismo. Com Plutão em Caranguejo nasce a URSS e começa a ser montado o palco para o mundo que conhecemos até 1991 (com o desmembramento da URSS) ou seja, o mundo dividido em duas esferas de influência,  a Guerra Fria entre a URSS e os EUA, NATO e Pacto de Varsóvia. Guerra Fria que teve picos de tensão, o envolvimento das duas superpotências em vários conflitos regionais,  nos anos 60, 70 e 80. Nos anos 80, com Ronald Reagan e a chamada guerra das estrelas. Enquanto os EUA e a URSS se "distraíam" e mantinham a sua luta pelo poder ideológico, político e militar, a Europa refazia-se através do poder económico e surgiam economicamente novas potências, a Alemanha, a China e também o Japão (importa relembrar aqui, que Alemanha e Japão estavam fora da cena política internacional desde o fim da II Guerra, não fazendo parte , por exemplo, do Conselho de Segurança da ONU. Em relação à China, quem durante muitos anos fazia parte do Conselho de Segurança era a China de Taiwan e não a República Polpular da China). É depois da quadratura minguante (Balança), quando entramos na fase final do ciclo (que vai até 2008) com o sextil minguante, isto é, Plutão em escorpião, que a Guerra Fria se intensifica com Reagan e depois acaba, tendo o seu fim simbólico em 1989 com a queda do muro de Berlim e depois em 1991 com o desmembramento da URSS.

O que tudo isto quererá dizer? Não sei... A verdade é que as nossas estruturas de poder, quer político, quer económico, quer social, fazem parte desse velho pressuposto, do ciclo anterior, são ainda um produto da revolução industrial e também de toda a conjuntura do mundo do pós II Gerra, "dividido entre o capitalismo e o socialismo". Lembro-me que quando entrei na faculdade, em 1989, frequentando eu um curso (Relações Internacionais) muito ligado ao mundo como até então era conhecido e que começava a desmoronar-se, embora ninguém soubesse muito bem o que iria acontecer todos tinham noção de que novos paradigmas iriam surgir. Em 1991 pudémos assistir a uma guerra pela televisão, a Guerra do Golfo. Depois, tivémos as consequências do fim da URSS e os conflitos regionais na Europa, emergindo novos países, procurando nova identidade. Tivémos também o "renascimento" europeu com Maastricht nos anos 90 e depois o Euro. O petróleo continua a mandar e nem preciso lembrar os acontecimentos dos últimos anos (World Trade Center, Al Quaeda, Iraque...).

Na fase final de um ciclo, na fase balsâmica, (que começou depois de 1984) tudo tem de ser reestruturado, transformado, para que se possa iniciar um ciclo novo, um novo paradigma. O novo ciclo de Plutão iniciou-se em 2008, mas penso que é com a quadratura com Úrano que o ciclo vai verdadeiramente começar. As profundas necessidades de regeneração económica, política, social são sentidas... o que vai acontecer? Veremos... Estamos de facto num novo paradigma cujas pistas não nos são dadas apenas pelo ciclo de Plutão, mas por ciclos maiores e mais importantes que aqui não referi.

O novo ciclo de Plutão em Capricórnio é marcado indubitavelmente pela quadratura entre este planeta e Úrano em Carneiro. Esta quadratura (o primeiro aspecto exacto será a partir de 24 Junho 2012) representa a tensão e o embate de duas forças poderosas; Úrano em Carneiro - impulso renovador e revolucionário, a aceleração, a urgente necessidade de mudanças, a necessidade de integração de novos arquétipos. Plutão em Capricórnio - necessidade de regeneração da velha ordem de poder, das estruturas que não servem mais e que são incapazes de trazer evolução, quer sejam económicas, políticas ou sociais.

É na perspectiva que podemos ter a noção de Ordem Maior e é interessante ter em conta os símbolos sabeus dos graus onde primeiramente a quadratura se vai realizar, Úrano no grau 9 de Carneiro e Plutão no grau 9 de Capricórnio. Nestes símbolos está vincada a necessidade de alinhamento de propósito do Homem (individual e colectivo) com o Todo Maior.

9º Carneiro

"Um visor de cristal.
Ideia básica: O desenvolvimento de uma compreensão interna de totalidade orgânica.
A esfera de cristal simboliza a totalidade. No interior da esfera, as imagens tomam forma. Essas imagens podem revelar eventos futuros, mas, o que é mais significativo, descrevem "a situação como um todo" - a situação que se espera que o clarividente interprete. As faculdades mentais nascentes que operam por entre emoções ainda dominantes (ou incentivos culturais colectivos) agem como um poder centralizador e gerador de totalidade. A inteligência percebe, em sua concentração, a função de todo o impulso interno e de eventos externos no campo aberto de uma "personalidade" ainda não nublada pelo egoísmo.
Neste quarto estágio da sequência de cinco fases, a nova técnica exigida para o desenvolvimento da consciência individualizada é revelada: Atenção concentrada.

9º Capricórnio

"Um anjo portando uma harpa.
Ideia básica: A revelação do significado e propósitos espirituais que se acha no cerne de toda a situação de vida.
Esse quadro nos diz, simplesmente, "o céu está dentro de nós". Tudo o que temos de fazer é nos mantermos abertos e ouvirmos a harmonia total da vida, uma harmonia na qual desempenhamos um papel necessário à inteireza e ao significado do todo. Para fazê-lo, temos de renunciar à nossa divisa consciência do ego e fluir junto com a corrente universal que, para a pessoa de mentalidade religiosa, é a Vontade de Deus.
Este é o quarto símbolo da série. A técnica que ele implica é a da sintonia com o ritmo da vida universal. Os anjos devem ser considerados personalizações dos vários aspectos dessa vida e totalmente submissos aos seus ritmos e propósitos.

Em relação à analise da quadratura, das suas implicações quer ao nível nacional, quer mundial, aconselho vivamente a lerem o artigo que o António Rosa publicou no seu blog.É muito, muito bom.
Quadratura no céu entre Úrano e Plutão - Um imenso País chamado FMI





Deixo também um artigo excelente do blog Céus!!! da Rosita Iguana - 2012 - Os Astros, a Crise e outros ciclos


Deixo ainda o  também excelente artigo do Marcelo Dalla, publicado no  Dalla Blog A quadratura Urano - Plutão


A música dos Black Eyed Peas parece-me apropriada





Poderão gostar também do artigo que escrevi sobre o mapa do início do ano Astrológico - Início do Ano Astrológico - chegada da Primavera


Por último, deixo a ligação para um dos melhores vídeos que vi sobre o assunto, um vídeo de Tom Lescher 







Vera Braz Mendes



terça-feira, 19 de junho de 2012

Caranguejo “Eu Construo uma casa iluminada, e aí construo a minha morada”




O Solstício em Junho (no dia 20 ou 21) é o instante marca o início do Verão no Hemisfério Norte, a entrada do Sol no signo de Caranguejo. É interessante verificar que nos solstícios se celebram duas importantes festas Cristãs; no de Verão a de São João Baptista (para o Cristianismo São João é o testemunho da Luz, introduz o baptismo) e no de Inverno, o Natal, o nascimento de Jesus.
Caranguejo ou Câncer é o quarto signo do zodíaco e forma com Escorpião e Peixes a triplicidade dos signos da Água. É também um dos quatro signos cardeais, juntamente com Áries / Carneiro, Libra / Balança e Capricórnio.

Para os Caldeus e depois para os neoplatónicos, Caranguejo era o Portão dos Homens, por onde a Alma descia das esferas celestes para a encarnação (Liz Green – A Astrologia do destino).
Caranguejo é a primeira água, a água de onde todos vimos. É simbolicamente o ventre materno, a ligação umbilical a uma mãe que nos alimenta, nutre e protege. A ligação a uma “mãe” que nos devolve um sentimento de pertença. E é isso que em Caranguejo procuramos – pertencer. Procuramos o colo que nos nutra e segure.  É a nossa fundação emocional, os nossos padrões.... muitas vezes a sombra das dependências, dos instintos que nos levam a ser reactivos para obtermos alimento … amor.

Na água corre também memória e, por isso, em Caranguejo estão gravadas as emoções vividas em experiências anteriores – daí a sua ligação ao passado, à infância. Na água corre seiva… ADN… karma biológico que nos liga à família.
Caranguejo é sensibilidade, vulnerabilidade, fragilidade… e é aqui que encontramos a ligação ao crustáceo – a necessidade da carapaça, de andar para o lado ou para trás - puro instinto de protecção, de sobrevivência.

Há dois grandes ” cortes” na vida – primeiro com a Causa Primeira, com Deus - experiência de separação. Depois, o cordão umbilical, com a mãe - experiência de separação novamente. E é este profundo sentimento de perda que afinal todos queremos reparar. A necessidade de pertencer a alguma coisa, a procura de um Lar, vem da vontade de preencher uma perda, uma lacuna imensa que nos envolve e enrola, dissolvendo-nos na massa, afastando-nos do que mais procuramos - da ligação.
“Acredito que Câncer é levado a procurar essa fonte Divina: esse é o seu Daimon, imaginado tanto com o começo da vida antes da separação física e do nascimento, como o fim da vida quando a alma mais uma vez se funde com o Um. Assim, é tanto um anseio regressivo pelo ventre, como um anseio místico por Deus. É compreensível que a projecção desse símbolo primordial caia primeiramente sobre a mãe pessoal, e talvez seja por isso que ela tenha um aspecto tão poderoso na vida dos cancerianos, a despeito de ela ser ou não, na realidade e em qualquer sentido objectivo, tão poderosa. O “clássico complexo de mãe” do canceriano não diz respeito à mãe pessoal. É o primeiro estágio de um desdobramento gradual em direcção a uma fonte interior, embora em geral Câncer procure, em diferentes períodos da vida, essa fonte personificada numa pessoa “maternal”, homem ou mulher, que possa cuidar dele e livrá-lo do medo do isolamento e separação” (Liz Green – A Astrologia do Destino).
Enquanto não amadurecermos o arquétipo de Caranguejo em nós, seremos os eternos filhos à procura fora de nós, de quem nos nutra, proteja e segure. Criamos dependências emocionais, impedimentos ao nascimento de uma consciência individualizada, procurando realização num filho, numa mãe, numa família... numa tribo. Desresponsabilizamo-nos de encontrar em nós os alicerces da segurança que precisamos.
Caranguejo é a consciência de massa quando dominado pelo seu regente, a Lua. 


A Lua simboliza a nossa capacidade de sentir e de nos sintonizarmos com o meio ambiente. Representa a nossa vida emocional, o instinto e a auto preservação. Num Mapa Astrológico é símbolo do relacionamento com o feminino, com a imagem da mãe e com a procura de alimento (físico, psicológico, emocional).


O seu símbolo simboliza o vazio que falta preencher para chegar ao todo… carência… mas também receptividade. O semicírculo representa também a alma, o sentir, intuir.

No sistema solar, o Sol é central. Irradia luz, vida. No ser humano, a função que o Sol desempenha é a mesma, ou seja, é o centro integrador da consciência, gerador de luz. No mapa natal, o Sol ajuda-nos a tornarmo-nos nós próprios, é através dele que encontramos expressão. Se o Sol é o princípio masculino activo, Animus, a Lua é o princípio feminino passivo, Anima. Sol e Lua, símbolos da dualidade; dia/noite, feminino/masculino, consciente/inconsciente, activo/passivo, emanador/receptor…

A sua natureza mutável, cíclica, ligou-a desde sempre à ideia de um mundo sempre em movimento, inconstante, ao arquétipo feminino, à maternidade, ao alimento, às emoções e aos afectos. A lua é receptiva e passiva por natureza, não tem luz própria, reflecte a luz solar e serve de mediador entre o Sol e a Terra. A sua natureza nocturna conectou-a com a escuridão, medo, sombra, reserva, perigo. Por isso, num mapa natal, a Lua representa também os nossos medos profundos e os padrões instintivos de comportamento reactivo que adoptamos quando nos encontramos em circunstâncias que põem em causa a nossa segurança emocional. O nosso sistema de segurança emocional, auto-preservação, constitui-se na infância – até aos quatro anos. É a Lua que nos diz sobre que sistema é esse. Nos primeiros meses de vida, na percepção da criança, ela e a mãe ainda são uma coisa só. A mãe é todo o nosso universo, é através dela que captamos o mundo. Somos dos únicos animais que nasce frágil e dependente, precisamos da mãe para sobreviver. Esta dependência é a matriz de nossa consciência lunar. 

E a Lua tem um enorme instinto de posse psíquica, muita dificuldade em “abrir mão”, largar. No homem comum, esta lua traz sensibilidade… mas também, confusão, inconstância e muita subjectividade. Ao deixar-se mergulhar na sua própria subjectividade, fica imerso na multidão, na massa, na família… perde noção de Ser… É, porque ilusoriamente pertence a alguma coisa ou alguém. Este É devolve-lhe solidão. Na dor da solidão reside o seu maior crescimento que conduz ao despertar da Alma. A solidão convida a olhar para dentro de forma a curar o mundo emocional. Convida a perguntar de que forma é que nos relacionamos com as emoções. O que é que precisamos para nos sentirmos seguros? Como é que nos relacionamos com a nossa criança interior. Como é que nos alimentamos emocionalmente? É a partir daqui que o regente esotérico Neptuno começa a actuar. Com Neptuno, Caranguejo desperta para o que está à sua volta, para o conceito de grande família universal. Podemos ver então no Caranguejo a “Mãe Universal” lançando para o mundo os maiores dons deste signo: Nutrimento e cuidado.
Os sentimentos, a sensibilidade antes caóticos passam a ser pura inspiração que escuta a sabedoria da voz interior.
Caranguejo é a percepção da Alma Colectiva.

Frases de Caranguejo:

Personalidade: “Que o isolamento seja a regra apesar de existir o colectivo”

Alma: “Eu Construo uma casa iluminada, e aí construo a minha morada”

Deixo aqui mais uma boa visão de Caranguejo, postada pelo António Rosa no seu Blog Cova do Urso

Vera Braz Mendes


segunda-feira, 18 de junho de 2012

Metamorfose







No dia em que a vida me virou do avesso e expôs tudo em mim, aprendi que afinal, esse era o lado direito. Loucura para uns, lucidez para mim. Encontrei na fragilidade uma força própria, força que hoje me permite escrever sobre algo tão pessoal. 

Posso resumir assim a viagem que iniciei em 2 de Fevereiro de 2004. Longa viagem, dolorosa viagem, divina viagem. Uma viagem interna, intensa, que poderia ser de qualquer um… mas é a minha. E nada do que possa escrever ou dizer poderá traduzir a profundidade do que encontrei no caminho.

Sempre tive consciência que um dia iniciaria a viagem. Na verdade, o medo do que eu sabia ser um caminho sem volta fez com que a adiasse… se num dia desejava secretamente que se iniciasse no outro desejava ainda mais secretamente que nunca começasse… a ilusão anestesia-nos.

Eu sabia, como todos sabemos, que não me possibilitava ser inteira – queria encaixar, ser igual, reconhecida, validada, boa mãe, boa mulher, um bom trabalho... normal (o que quer que isso seja). Pelo caminho calei, abafei partes de mim que não se enquadravam com aquilo que, afinal de contas, acreditava que esperavam de mim… Nenhuma mentira é tão verdadeira. Ninguém espera de mim.

Toda a vida fui viajando. Sem qualquer compromisso interno, ía mascarando o medo de mergulhar… livros, cursos… desenvolvimento pessoal … desenvolvimento mental, não foi mais do que isso… desenvolvimento mental.

Em Fevereiro de 2004 iniciei a verdadeira viagem. Tive um acidente, fui atropelada. Parece um lugar comum, mas termos a vida posta em causa muda-nos mesmo a perspectiva… ironicamente, começamos a viver. Ficar durante um tempo literalmente parada, dependente para tudo e de todos, dissolveu-me as certezas, preparou-me novas perguntas, devolveu-me significado.

Estranhamente, as dores no corpo eram insuportáveis mas as dores na Alma não. Doía-me o corpo mas não me doía a Alma. E se isto bastava para me alargar a visão, o que se passou nos dois anos seguintes fez-me descobrir o meu lado mais sensível e frágil. Fez-me descobrir também uma força, um poder que não sabia que tinha.

Nos dois anos seguintes conheci o medo, todas as facetas do medo... medo que paralisa, congela, que se entranha… ilógico… Ataques de pânico constantes e generalizados … medo de morrer, medo de viver. Conheci também durante esses dois anos a coragem. A coragem de perceber força na fragilidade, a coragem que, apesar do medo, não me deixava desistir.

Como mulher aprendi a lição que a mãe em mim menos queria aprender... Que os meus filhos não são meus, que são seres livres que vivem sem mim, mas em Mim. Amarga lição para a mãe, abençoada lição para a Mulher, para o Ser. Nesse dia, acabaram as desculpas.... Nesse dia acabou a necessidade que eles necessitassem de mim. Hoje mais livres, inteiros, sem culpas, sem o peso de me justificarem a existência.

Ganhei a liberdade de procurar o que no mais íntimo do meu ser fazia sentido, mesmo que parecesse insanidade aos olhos de muitos, inclusive, às vezes, aos meus próprios olhos. Encontrei uma fé inabalável e uma crença que me potencia todos os dias; a vida é uma viagem com uma multiplicidade de perspectivas e a maior liberdade reside na escolha da perspectiva sobre a qual viver, sobre a qual viajar.

A vida é metamorfose constante.



Nota: Agradeço à Susana Vitorino que no seu blog Viajante me lançou o desafio (convite) de escrever sobre esta minha viagem.

Vera Braz Mendes




segunda-feira, 11 de junho de 2012

Tenho em mim todas as sombras do mundo







Tenho em mim todas as sombras do mundo. E elas vêm… tantas vezes elas vêm. Estou no meio e observo. E continuo no meio… Tanta luz, tantas verdades, promessas… tantas trevas. E eu estou humanamente no meio. Quero luz, quero brilho, quero Deus… quero o Deus em mim… mas tenho em mim todas as sombras do mundo! Sei o que não sinto. Sinto o que não sei. Sei o que sei e sinto. Na confusão desisto, desarmo, perco-me e encontro-me.

Tudo o que observo é projecção minha. Não há excepções. Sou eu a contadora de histórias, a manipuladora de significados. A sombra sempre esteve atrás de mim. Quando olho apenas para a luz… não a vejo. Se estiver mergulhada na escuridão… também não a vejo. Percebo-a pela projecção. Aumento-a pelo significado. E é na mudança de significado que construo a ponte que me guia à liberdade.

A verdadeira guerra não é lá fora, é cá dentro. A verdadeira prisão não tem grades nem muros. A cabeça explode e o coração aquieta-se. O coração sabe.

Humanamente no meio, descobri que a sombra é um campo fértil. No mergulho sem máscara descubro quem também sou e ainda não sabia. Descubro o que impede, o que aprisiona, o que ilude… Exponho-me e descubro a curadora ferida. Na exposição vislumbro a magnificência…


Na busca do conhecimento todos os dias adquiro. Na busca da totalidade todos os dias deixo alguma coisa para trás. E é assim que encontro em mim, também, todos os sonhos do mundo.


“Tive um sonho que me assustou e me animou ao mesmo tempo. Era de noite, e encontrava-me num lugar desconhecido. Avançava com dificuldade contra um vento forte. Uma densa bruma cobria tudo. Nas minhas mãos em forma de taça, tinha uma débil luz que ameaçava extinguir-se a todo o momento. A minha vida dependia dessa débil luz, que eu protegia preciosamente. De repente, tive a impressão de que algo avançava atrás de mim. Olhei para trás e apercebi-me da forma gigantesca de um ser que me seguia. Mas ao mesmo tempo estava consciente de que, apesar do meu terror, devia proteger a minha luz através das trevas e contra o vento. Ao acordar dei-me conta que a forma monstruosa era a minha sombra, formada pela pequena chama que tinha acendido no meio da tempestade. Sabia também que aquela frágil luz era a minha consciência. A única que possuía, confrontada com o poder das trevas, era uma luz, a minha única luz”  - Recuerdos, Sueños e Pensamientos – Carl Jung


Vera Braz Mendes




Eu falo, Tu falas, Nós não nos Ouvimos!

Sempre vejo anunciados cursos de oratória. Nunca vi anunciado curso de escutatória. Todo mundo quer aprender a falar. Ninguém quer aprender a ouvir. Pensei em oferecer um curso de escutatória. Mas acho que ninguém vai se matricular…… A música acontece no silêncio. A alma é uma catedral submersa.

No fundo do mar – quem faz mergulho sabe – a boca fica fechada. Somos todos olhos e ouvidos. Aí, livres dos ruídos do falatório e dos saberes da filosofia, ouvimos a melodia que não havia, que de tão linda nos faz chorar.


Para mim, Deus é isto: a beleza que se ouve no silêncio. Daí a importância de saber ouvir os outros: a beleza mora lá também.

Comunhão é quando a beleza do outro e a beleza da gente se juntam num contraponto.
 Rubem Alves



A faculdade que mais tive de treinar e que mais trabalho me deu e dá a desenvolver é saber ouvir. É preciso silêncio, silêncio interno para poder ouvir.

Nada contribuiu mais para o meu crescimento enquanto pessoa do que ter a consciência que não suportava os silêncios… não me suportava. O ruído anestesia-nos, distrai-nos do contacto com os nossos diálogos internos, do confronto connosco. É fácil termos sempre uma opinião, uma resposta pronta para solucionar milagrosamente os problemas dos outros. Mas será que realmente os ouvimos? Será que damos espaço ao outro para ser ouvido? Ou será que sempre que alguém fala connosco, nos embrenhamos imediatamente em nós mesmos procurando soluções… soluções que seriam boas para nós se tivéssemos coragem de as pôr em prática. Afinal, tantas e tantas vezes que os problemas que os outros nos contam não são mais dos que os nossos… contados por outra pessoa.
Neste texto belíssimo de Rubem Alves está bem retratado o que muitas vezes, demasiadas vezes diria eu, se passa nos diálogos. Alguém fala, e nós, em vez de ouvirmos e sentirmos o outro de acordo com o que o outro é, recriamo-lo e à solução para o seu problema, para a sua vida, segundo o nosso “modelo” do mundo. Opinar, ter a solução, convencermo-nos de que sabemos quem o outro é e o que precisa pode ser também uma forma de nos validarmos, uma forma de pedirmos ao outro que veja como somos especiais, como sabemos tanto…. Como existimos.

No entanto, mais do que a arrogância e vaidade que Rubem Alves menciona no texto, acredito que a nossa surdez tem profundamente a ver com a sensação de invisibilidade que temos e com o medo profundo de nos confrontarmos com o que não foi ainda preenchido e que está dolorosamente vazio … Todos nos sentiríamos especiais, se ao menos ouvíssemos o silêncio. E ninguém nos ensina a ouvir o silêncio.

O som maravilhoso do silêncio não existe, nem pode existir enquanto nele apenas se manifestar o nosso maior inimigo, nós próprios. No silêncio manifesta-se o som estridente dos nossos diálogos internos. E como podem ser terríveis os nossos diálogos. Tomar consciência do que dizemos a nós próprios é um passo importantíssimo para sabermos quais realmente são as nossas necessidades, o que nos falta, o que pensamos sobre nós. E quando reconhecemos o que nos faz falta, o que sempre nos faltou, o que pensamos que somos, estamos prontos para transformar, para nos transformarmos. E aí, a alquimia começa.

Ouvirmo-nos é o primeiro passo para que sejamos nós a dirigir a nossa mente e não a nossa mente a dirigir-nos. Ouvirmo-nos e validarmo-nos é o primeiro passo para que possamos verdadeiramente ouvir os outros… e escutar o som maravilhoso do silêncio.

Exercício:

Pára por uns momentos e dá-te conta do teu diálogo interno. Ouve-te como se estivesses de fora a ouvir pessoas a conversar.
Pega numa folha e escreve tudo o que que vier à tua mente, sem preconceito. Lê o que escreveste e depois, se quiseres, destrói o papel.

Deixo aqui o texto completo de Rubem Alves.

Escutatória


Sempre vejo anunciados cursos de oratória. Nunca vi anunciado curso de escutatória. Todo mundo quer aprender a falar. Ninguém quer aprender a ouvir. Pensei em oferecer um curso de escutatória. Mas acho que ninguém vai se matricular.

Escutar é complicado e sutil. Diz Alberto Caeiro que “não é bastante não ser cego para ver as árvores e as flores. É preciso também não ter filosofia nenhuma”.
Filosofia é um monte de idéias, dentro da cabeça, sobre como são as coisas. Para se ver, é preciso que a cabeça esteja vazia.

Parafraseio o Alberto Caeiro: “Não é bastante ter ouvidos para ouvir o que é dito; é preciso também que haja silêncio dentro da alma”. Daí a dificuldade: a gente não agüenta ouvir o que o outro diz sem logo dar um palpite melhor, sem misturar o que ele diz com aquilo que a gente tem a dizer.
Como se aquilo que ele diz não fosse digno de descansada consideração e precisasse ser complementado por aquilo que a gente tem a dizer, que é muito melhor.
Nossa incapacidade de ouvir é a manifestação mais constante e sutil de nossa arrogância e vaidade: no fundo, somos os mais bonitos…

Tenho um velho amigo, Jovelino, que se mudou para os Estados Unidos estimulado pela revolução de 64. Contou-me de sua experiência com os índios.

Reunidos os participantes, ninguém fala. Há um longo, longo silêncio. (Os pianistas, antes de iniciar o concerto, diante do piano, ficam assentados em silêncio, abrindo vazios de silêncio, expulsando todas as idéias estranhas.). Todos em silêncio, à espera do pensamento essencial. Aí, de repente, alguém fala. Curto. Todos ouvem.

Terminada a fala, novo silêncio. Falar logo em seguida seria um grande desrespeito, pois o outro falou os seus pensamentos, pensamentos que ele julgava essenciais. São-me estranhos. É preciso tempo para entender o que o outro falou. Se eu falar logo a seguir, são duas as possibilidades.
Primeira: “Fiquei em silêncio só por delicadeza. Na verdade, não ouvi o que você falou. Enquanto você falava, eu pensava nas coisas que iria falar quando você terminasse sua (tola) fala. Falo como se você não tivesse falado”.

Segunda: “Ouvi o que você falou. Mas isso que você falou como novidade eu já pensei há muito tempo. É coisa velha para mim. Tanto que nem preciso pensar sobre o que você falou”.
Em ambos os casos, estou chamando o outro de tolo. O que é pior que uma bofetada. O longo silêncio quer dizer: “Estou ponderando cuidadosamente tudo aquilo que você falou”. E assim vai a reunião.

Não basta o silêncio de fora. É preciso silêncio dentro. Ausência de pensamentos. E aí, quando se faz o silêncio dentro, a gente começa a ouvir coisas que não ouvia.
Eu comecei a ouvir.

Fernando Pessoa conhecia a experiência, e se referia a algo que se ouve nos interstícios das palavras, no lugar onde não há palavras.

A música acontece no silêncio. A alma é uma catedral submersa.

No fundo do mar – quem faz mergulho sabe – a boca fica fechada. Somos todos olhos e ouvidos. Aí, livres dos ruídos do falatório e dos saberes da filosofia, ouvimos a melodia que não havia, que de tão linda nos faz chorar.

Para mim, Deus é isto: a beleza que se ouve no silêncio. Daí a importância de saber ouvir os outros: a beleza mora lá também.

Comunhão é quando a beleza do outro e a beleza da gente se juntam num contraponto.


Vera Braz Mendes