No dia em que a vida me virou do
avesso e expôs tudo em mim, aprendi que afinal, esse era o lado direito.
Loucura para uns, lucidez para mim. Encontrei na fragilidade uma força própria, força que hoje me permite escrever sobre algo tão pessoal.
Posso resumir assim a viagem que
iniciei em 2 de Fevereiro de 2004. Longa viagem, dolorosa viagem, divina
viagem. Uma viagem interna, intensa, que poderia ser de qualquer um… mas é a
minha. E nada do que possa escrever ou dizer poderá traduzir a profundidade do
que encontrei no caminho.
Sempre tive consciência que um
dia iniciaria a viagem. Na verdade, o medo do que eu sabia ser um caminho sem
volta fez com que a adiasse… se num dia desejava secretamente que se iniciasse
no outro desejava ainda mais secretamente que nunca começasse… a ilusão
anestesia-nos.
Eu sabia, como todos sabemos, que
não me possibilitava ser inteira – queria encaixar, ser igual, reconhecida,
validada, boa mãe, boa mulher, um bom trabalho... normal (o que quer que isso
seja). Pelo caminho calei, abafei partes de mim que não se enquadravam com
aquilo que, afinal de contas, acreditava que esperavam de mim… Nenhuma mentira
é tão verdadeira. Ninguém espera de mim.
Toda a vida fui viajando. Sem qualquer compromisso interno, ía mascarando
o medo de mergulhar… livros, cursos… desenvolvimento pessoal … desenvolvimento
mental, não foi mais do que isso… desenvolvimento mental.
Em Fevereiro de 2004 iniciei a verdadeira viagem. Tive um acidente, fui atropelada. Parece um lugar comum, mas termos a vida posta em causa muda-nos mesmo a perspectiva… ironicamente, começamos a viver. Ficar durante um tempo literalmente parada, dependente para tudo e de todos, dissolveu-me as certezas, preparou-me novas perguntas, devolveu-me significado.
Em Fevereiro de 2004 iniciei a verdadeira viagem. Tive um acidente, fui atropelada. Parece um lugar comum, mas termos a vida posta em causa muda-nos mesmo a perspectiva… ironicamente, começamos a viver. Ficar durante um tempo literalmente parada, dependente para tudo e de todos, dissolveu-me as certezas, preparou-me novas perguntas, devolveu-me significado.
Estranhamente, as dores no corpo
eram insuportáveis mas as dores na Alma não. Doía-me o corpo mas não me doía a
Alma. E se isto bastava para me alargar a visão, o que se passou nos dois anos
seguintes fez-me descobrir o meu lado mais sensível e frágil. Fez-me descobrir
também uma força, um poder que não sabia que tinha.
Nos dois anos seguintes conheci o medo, todas as facetas do medo... medo que paralisa, congela, que se entranha… ilógico… Ataques de pânico constantes e generalizados … medo de morrer, medo de viver. Conheci também durante esses dois anos a coragem. A coragem de perceber força na fragilidade, a coragem que, apesar do medo, não me deixava desistir.
Nos dois anos seguintes conheci o medo, todas as facetas do medo... medo que paralisa, congela, que se entranha… ilógico… Ataques de pânico constantes e generalizados … medo de morrer, medo de viver. Conheci também durante esses dois anos a coragem. A coragem de perceber força na fragilidade, a coragem que, apesar do medo, não me deixava desistir.
Como mulher aprendi a lição que a
mãe em mim menos queria aprender... Que os meus filhos não são meus, que são
seres livres que vivem sem mim, mas em Mim. Amarga lição para a mãe, abençoada
lição para a Mulher, para o Ser. Nesse dia, acabaram as desculpas.... Nesse dia
acabou a necessidade que eles necessitassem de mim. Hoje mais livres, inteiros,
sem culpas, sem o peso de me justificarem a existência.
Ganhei a liberdade de procurar o
que no mais íntimo do meu ser fazia sentido, mesmo que parecesse insanidade aos
olhos de muitos, inclusive, às vezes, aos meus próprios olhos. Encontrei uma fé
inabalável e uma crença que me potencia todos os dias; a vida é uma viagem com uma
multiplicidade de perspectivas e a maior liberdade reside na escolha da
perspectiva sobre a qual viver, sobre a qual viajar.
A vida é metamorfose constante.
Nota: Agradeço à Susana Vitorino que no seu blog Viajante me lançou o desafio (convite) de escrever sobre esta minha viagem.
Vera Braz Mendes
Só quando nos desnudamos deixamos brilhar toda a nossa Luz. Muito grata por aceitares este desafio, e por embarcares no Expresso do Oriente.
ResponderEliminarAté já* Sempre.
Obrigada Susana!
ResponderEliminarParabéns pela viagem e por a partilhares tão aberta e sinceramente com todos o que a acompanham e/ou lerem. É mesmo preciso coragem de Leão ;)
ResponderEliminarMarta, tu és uma das pessoas especiais na minha vida. Que acompanhou e acompanha. Já me fizeste suar pelos olhos, lol.
ResponderEliminarVera, uma partilha em que te dás mais a sentir, te aproximas mais de ti e de quem te lê. Uma aprendizagem viva de quem já sabe que a certa altura a voz do coração fala mais alto e a partir daí já nada volta a "encolher" ao tamanho (emocional) de outrora ... Grata por te ler, por te sentir... assim. Aquele abraço e sorriso especiais para ti ;)
ResponderEliminarFernanda, tu também minha amiga especial... obrigada. bj
Eliminara viagem que temos feito as 2 de algum tempo para cá, tem sido uma maravilhosa e prazeirosa descoberta, que teve hoje, no momento em que te li, um deslumbre de grandeza e magnificiência humana comovente!! Obrigada :)
ResponderEliminarÉ verdade Carmen... tem sido uma grande e boa viagem. Quem diria quando nos conhecemos no congresso...
EliminarBj enorme.
Bela narrativa da viagem. Senti que muito mais haveria para partilhar, mas as coisas são assim mesmo... saboreadas, sentidas. Muito agradecido por ter lido.
ResponderEliminarDe facto António, muita coisa haveria para partilhar. Muito agradecida eu.
EliminarObrigada pela partilha Vera, escreves de uma forma muito especial, é muito bom ler-te, tem conteúdo, profundidade, muita emoção. Beijinhos
ResponderEliminarObrigada Patrícia. Bom saber. Beijinho.
EliminarMuito bom ler! Fez-me sentir normal!
ResponderEliminarGrande abraço Vera e mais uma vez Parabéns pela mensagem partilhada!
Obrigada eu Sandra.
EliminarBom dia!
ResponderEliminarNão quero ler mais nada hoje depois do que li aqui Vera...
Sua escrita entranhou-se e chegou até o fundo da minha alma...
Senti intensamente seus vários medos e suas constatações, principalmente em relação aos filhos...sim estão em nós!
Por um instante pensei ser a minha escrita:)... não nunca fui atropelada, mas vivi instantes onde a morte trouxe a vida... justamente por estar aqui a matutar como transformar essa experiência em palavras.
Muitos beijinhos agradecidos...parabéns!!!Sua escrita me encanta.
Astrid Annabelle
Minha querida Astrid, obrigada.
EliminarAdorei!já te conheço, antes, durante e talvez(espero) depois desta tua viagem... Nos comentários acima, alguém diz: " é muito bom ler-te" ... Para mim, é e sempre foi bom ouvir-te! ainda mantenho a esperança de um dia ser tua aluna... Um curso! Please!!!Pensa nisso... já sabes que os alunos arranjo eu!beijo!
ResponderEliminarAlexandra de Palma.
Alexandra, por esta é que eu n esperava! Deixaste-me mesmo feliz! e Sim, tu conheces-me antes, durante e agora.... por dentro, por fora, de lado, por cima... bj grande.
ResponderEliminarOlá querida!!!!
ResponderEliminarSó hoje consegui vir aqui ler seu artigo. Gostei imenso!!! Sua escrita geminiana é bela e fluida... consegues nos transmitir a ideia e os sentimentos. Gostei de conhecer um pouco mais de ti! "A vida é metamorfose constante."... Vivemos tempos intensos, não é? :))) bjos querida
Olá Marcelo! Obrigada pelas tuas palavras.
EliminarVivemos tempos intensos... Muito.
Bj gde
Grato pela renovação da partilha Vera.
ResponderEliminarProfundo, compassivo e de uma genuinidade que envolve o coração.
E sim, claro que vivemos uma metamorfose constante que vamos aprendendo sempre a melhor gerir.
Beijinhos e votos de muito boa sorte!
Mário
Meu amigo, obrigada por vires aqui. Comigo.
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