Este ano a Primavera é quente, bombástica.
Muito se fala e escreve nos meios astrológicos sobre a Grande Cruz Cardinal que
vai estar no Céu a partir de meio de Abril, cujo aspecto exacto começará no dia
22. Quem me conhece e quem não me conhece mas lê, sabe que não sou fatalista,
pelo contrário, procuro sempre um significado construtivo em tudo. Ainda assim,
esta grande cruz, como o António Rosa diz, é um enorme “fogo de artifício”. Não
tenho a certeza é se será bonito de se (vi)ver.
Quem estuda astrologia sabe que o
Zodíaco funciona através dos 4 elementos, que se expressam num ritmo tríplice:
Geração, concentração e distribuição de energia, tendo como resultado os 12
signos. A combinação de 3 modalidades com os 4 elementos resulta em 12 padrões
básicos de energia – os 12 Signos. Os Signos Cardinais (Equinócios e
Solstícios) geram o poder (exteriorizam), que será concentrado pelos Signos
Fixos e distribuído pelos Signos Mutáveis. Cada Elemento manifesta-se assim, de
três modos distintos: o Modo Cardinal, que corresponde aos signos que iniciam
as estações, o Modo Fixo, associado aos signos do meio das estações e o
Mutável, que corresponde aos signos finais de cada estação. Cada um destes
modos encerra um signo de cada um dos quatro Elementos, que dá origem a três
cruzes: a cruz cardinal, a cruz fixa e a cruz mutável.
Cruz, porque temos dois signos
que se opõem e que fazem uma quadratura (um ângulo de 90º) com outros dois
signos que também se opõem, formando um quadrado. Nas oposições, a tensão dá-se
porque estão em movimento duas forças antagónicas e cuja integração se faz
através da aprendizagem da complementaridade pois, pertencem a elementos
compatíveis (Ar/Fogo ou Água/Terra). Nas quadraturas, por outro lado, a tensão gerada
é mais desafiante e implica acção pois dá-se entre elementos que não estão em
harmonia (Ar/Terra; Ar/Água; Fogo/Terra ; Fogo Água).
A palavra Cardinal significa
fundamental e é a modalidade dos signos do início das estações que representam
a manifestação de uma nova energia e, para que essa nova energia se manifeste, a palavra-chave é um impulso para a acção. Ter planetas a formar uma grande cruz num
mapa natal é muito desafiador e não é uma configuração que ocorra muitas vezes.
Se por um lado é um aspecto muito poderoso que pode levar a pessoa a desenvolver
a coragem e a ser bem-sucedida pela quantidade de obstáculos que tem de
ultrapassar, por outro pode levar a uma desintegração da personalidade, exactamente por não
conseguir lidar com esse efeito poderoso da cruz. No entanto, mesmo que não
tenhamos planetas a formar esta configuração, todos temos na nossa mandala
astrológica a chamada “cruz da encarnação”, que é formada pela intercepção dos
dois eixos do mapa: o do horizonte (eixo da consciência;
Ascendente/Descendente; Eu/outro) e o do Meridiano (eixo do poder; Fundo do
Céu/Meio do Céu; de onde vim, as minhas fundações emocionais, para onde vou, a
minha projecção e integração no colectivo). A Cruz Cardinal tem um simbolismo profundo nas nossas vidas: A necessidade de autonomia, independência, afirmação do Eu (Carneiro), oposta à necessidade de relacionamentos justos e equilibrados (Balança). A herança emocional que vem da família, palco da minha estrutura emocional, de muitas crenças, de muitas feridas (Caranguejo), e a minha necessidade de integração na sociedade que, muitas vezes, serve para buscar aprovação através de um qualquer poder social, de uma qualquer estrutura que me devolva significado, muito ligado na nossa sociedade à carreira (Capricórnio). E a contínua tensão gerada pelas quadraturas: as necessidades emocionais, família, a desafiar a minha afirmação pessoal. As minhas necessidades emocionais a não me permitirem relacionamentos verdadeiros de partilha. A minha necessidade de poder social, de aprovação, em tensão com a minha independência e afirmação e também com os meus relacionamentos. Estes são temas centrais na vida de todos nós. Temas de equilíbrio difícil e que marcam decididamente o caminho de construção da nossa personalidade em direcção à Alma.
O que vamos ter no céu no dia 22 de Abril (embora a sua influência seja notada quer antes quer depois deste dia) é uma Cruz Cardeal formada por Marte a 14º de Balança; Úrano
a 14º de Carneiro; Júpiter a 14º de Caranguejo e Plutão a 14º de Capricórnio. A
característica desta Cruz, é a exactidão dos aspectos e os planetas envolvidos.
A tensão anda no ar desde há uns
anos, pelo menos desde que teve início a primeira quadratura entre Úrano e
Plutão em Junho de 2012… Na verdade, a tensão está em nós desde o dia em que
nascemos… Tensão que todos os dias sentimos entre a necessidade urgente de
mudança, de descondicionamento da ilusão de vida que criámos e que muitas vezes
está longe de expressar quem somos e, ao mesmo tempo, o medo que temos da
mudança. A mudança traz incerteza… penso que é isto que andamos a fazer…
habituarmo-nos à incerteza para encontrarmos a certeza que vem de dentro, da
fé.
Não me considero uma astróloga de
acontecimentos e por isso, mais do que aquilo que vai ou pode acontecer, o meu
foco é no significado, para mim, para ti, para o mundo. E o significado só o
encontro nos símbolos. O símbolo tem um poder integrador que transcende o
acontecimento. A Astrologia trouxe à minha vida este efeito mágico do símbolo.
Todos os dias ainda fico maravilhada. Assim espero continuar… a maravilhar-me.
Hoje, mais propriamente há uns
minutos quando me sentei para escrever, olhei pela primeira vez para o mapa da
grande cruz. E lá estava ela… a magia, a perfeição do Universo.
Todos seremos afectados por esta
grande Cruz. Quem tem planetas nos signos cardinais ainda sentirá mais o seu
efeito. Claro que trará tensões, crises… ainda assim, mais uma vez, a magia.
O António Rosa desafiou-me a
escrever sobre os símbolos sabeus dos graus envolvidos na Grande Cruz, desafio
que muito agradeço. Os textos são de uma simbologia impressionante e por isso
de “leitura obrigatória”, mas são longos e por isso não os vou reproduzir aqui.
Talvez o faça na próxima semana.
Á Cruz está sempre ligado o
quadrado. O quadrado remete-nos para a ordem, estrutura, construção,
trabalho….terra… encarnação. Saímos da “crucificação” da matéria pela
transcendência. Pelo trabalho interno que liberta que dissolve a rigidez do quadrado. Mergulho sem máscara no grande oceano universal.
A vida é mágica e ver a magia
traz-me uma sensação de que tudo é perfeito, de ordem neste caos aparente do
mundo em que vivemos.
Quando olhei para o mapa, percebi
que o dedo do Universo apontava numa só direcção - Neptuno em Peixes. Apesar da recepção mútua
entre Saturno em Escorpião e Plutão em Capricórnio (que em meu entender moderam
a Cruz), se olharmos para o regente tradicional de Escorpião, Marte, a saída da
Cruz, da rigidez do quadrado aponta numa única direcção – Neptuno em Peixes.
Neptuno é assim o dispositor final do mapa:
Sol em Touro regido por Vénus em
Peixes regida por Neptuno em Peixes.
Mercúrio em Touro regido por
Vénus em Peixes, regida por Neptuno em Peixes
Lua em Aquário, regida por Úrano
em Carneiro, regido por Marte em Balança, regido por Vénus em Peixes, regida
por Neptuno em Peixes.
Vénus em Peixes, regida por
Neptuno em Peixes.
Marte em Balança, regido por vénus
em Peixes, regida por Neptuno em Peixes.
Júpiter em Caranguejo, regido
pela Lua em Aquário, regida por Úrano em Carneiro, regido por Marte em Balança,
regido por Vénus em Peixes, regida por Neptuno em Peixes.
Saturno em Escorpião regido por
Marte em Balança, regido por Vénus em Peixes, regida por Neptuno em Peixes.
Úrano em Carneiro regido por
Marte em Balança, regido por Vénus em Peixes, regida por Neptuno em Peixes.
Neptuno em Peixes – Signo da sua
própria regência.
Plutão em Capricórnio, regido por
Saturno em Escorpião regido por Marte em Balança, regido por Vénus em Peixes,
regida por Neptuno em Peixes.
Interessante, não? Todo o mapa é
dominado por Marte (no signo da Vénus, Balança), pela Vénus exaltada em Peixes
e Neptuno em Peixes.
Neptuno é transcendência.
Dissolve o que nos separa do outro, refina o que toca. Não é um planeta mental.
É a centelha, a parte de cada um de nós que sabe que todos somos um, que todos
viemos do mesmo sítio, que todos retornaremos à “Casa do Pai”. Por isso, na nossa personalidade actua muitas
vezes como ilusão – a realidade dura é colorida e muitas vezes não é
enfrentada. Neptuno é a magia do sonho, da fé ilimitada que nos permite
transcender.
Neptuno estará no grau 7 quando
da formação exacta da cruz e, por isso, transcrevo também o símbolo do grau 8.
Mais uma vez… magia!
Símbolo Sabeu do Grau sete de
Peixes:
“Iluminada por um reflector, uma
enorme cruz repousa sobre rochas cercadas pela cerração marinha.
Ideia básica: A bênção espiritual
que fortalece os indivíduos que, aconteça o que acontecer, defendem com
desprendimento a sua própria verdade.
Os homens que não dependem dos
valores, das tradições ou do apoio colectivos, mas procuram a qualquer custo
ser fiéis ao próprio Eu e ao próprio destino enfrentam inevitavelmente alguma
espécie de crucificação. Esses homens mantêm-se apenas do poder que há dentro
de si mesmos, ao qual responde uma luz que se acha acima deles. O símbolo
diz-nos “Sê fiel ao teu próprio Eu e, em meio da confusão exterior manifestada
por aqueles que se acham ao teu redor, compreenderás aquilo que realmente és
como individuo – um filho de Deus”.
Este símbolo (…) implica o valor
supremo de uma vida orientada por uma voz interior e que manifesta um alto grau
de Auto-Afirmação.”
Símbolo Sabeu do Grau 8 de
Peixes:
“Uma garota soprando uma corneta.
“
Ideia básica: Uma chamada à
participação a serviço da raça, quando uma crise evolutiva se aproxima.
Este quadro simbólico apresenta
outro aspecto da relação emocional entre o indivíduo e a colectividade de seres
humanos. Pode ser vinculado, da mesma maneira, ao velho movimento feminista ou
com o actual movimento de libertação da mulher. No simbolismo tradicional, a
mulher refere-se, mais especificamente, ao aspecto psíquico e biológico da vida
humana; ela é vista primariamente como a mãe e/ou o tipo intuitivo ou
“psíquico” de pessoa. Uma nova raça de seres humanos pode muito bem-estar
manifestando vagarosamente parte do seu potencial em termos de consciência e de
realização plena. O indivíduo que percebe este desenvolvimento evolutivo “dá o
alarme”. Ele ou ela é, a um só tempo, vidente-arauto e mutante. Nesse sentido,
um ser humano como esse é, ao mesmo tempo, indivíduo fiel à sua natureza original
e pessoa dedicada – dedicada ao futuro que ele ou ela traz em latência, tal
como o faz uma semente em mutação.
Neste estágio (…) as duas fases
precedente são combinadas numa nova forma de consagração do indivíduo ao Todo.
O amanhã age através do hoje; ele conclama os homens ao renascimento.
Dane Rudhyar - Uma Mandala Astrológica
Vera Braz Mendes